A visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ontem, à capital amazonense rendeu bons frutos ao Estado e, em especial, à Gradiente e seus 550 trabalhadores. A ‘tábua de salvação’ foi lançada pelo próprio representante do governo federal, quando assegurou a concentração de esforços para socorrer a empresa que amarga crise milionária.
“Vamos fazer o que estiver ao nosso alcance para ajudar a Gradiente a voltar a produzir. É um patrimônio do Brasil e da Zona Franca de Manaus”, destacou Lula, durante a inauguração de um reservatório de água no bairro da Cidade Nova, Zona Norte.
Na oportunidade, o presidente garantiu ainda que o assunto encontra-se em discussão com o presidente do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho - que, inclusive, esteve na comitiva.
Além da preocupação pelo investimento no Pólo Industrial de Manaus (PIM) de uma empresa - que há pouco mais de uma década ‘brigava’ pela liderança no mercado de equipamentos de som e televisores, Lula mostrou-se sensibilizado, principalmente, com a situação dos industriários – maiores prejudicados com a ‘agonia’ sofrida pela companhia. “Embora a gente saiba que o momento é muito difícil, temos que lutar para preservar esses empregos”, salientou.
Aliás, foi o pessoal de ‘chão-de-fábrica’ – liderado pelo Sindicato dos Metalúrgicos de Manaus, com apoio do Partido dos Trabalhadores e Central Única dos Trabalhadores (CUT) - quem primeiro chamou a atenção de Lula para o assunto, ainda na noite de anteontem. Em protesto em frente ao Tropical Hotel, os industriários pediram ‘salvação’ para a fábrica.
O declínio de uma das pioneiras do PIM teve impacto, sobretudo, no quadro funcional. Nos anos de 2002 e 2003, a indústria chegou a gerar 3 mil empregos diretos na capital amazonense. Hoje, restringe-se a 550.
Reunião
Uma ‘saída’ para a indústria pode vir da reunião, na próxima semana, em Brasília. “Vamos constituir uma comissão de trabalhadores para ir, juntamente com a direção da empresa, tentar encontrar uma solução junto ao BNDES”, mencionou o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do Amazonas, Valdemir Santana.
O representante laboral explicou que, em crise financeira, com dívidas que beiram R$ 300 milhões, a Gradiente precisa de um empréstimo para iniciar um processo de reestruturação, inclusive, sem descartar em um novo modelo de gestão. “Há 20 dias, conversei com Eugênio Staub (presidente do conselho de administração da empresa), em São Paulo, e ele me disse que seriam necessários pelo menos R$ 200 milhões para pagar algumas dívidas e fazer a fábrica voltar a funcionar”.
Autogestão
Durante visita à capital paulista, Valdemir Santana entregou a proposta de autogestão a Staub – cogitada em março deste ano. “A empresa deve analisar junto aos seus acionistas a sugestão e verificar a viabilidade”. Uma contraproposta será enviada pela empresa até amanhã ao Sindicato dos Metalúrgicos.
Ações suspensas na Bovespa
Em mais um episódio da ‘crise Gradiente’, suas ações foram suspensas ontem, na Bolsa de Valores de São Paulo, por aproximadamente duas horas. A Bolsa pediu esclarecimentos sobre um pedido de falência publicado pela imprensa, feito pela Max Express transportes e Encomendas. Em resposta, a Gradiente informou que o valor da ação é de R$ 249.022,50 e que a Gradiente ainda não foi citada na ação de falência. “Quando receber a citação, (a Gradiente) apresentará a competente defesa mostrando que o valor cobrado é indevido, tendo em vista que a autora do pedido de falência não cumpriu com obrigações contratuais do transporte de mercadorias”, informou a empresa. Vale destacar que esta é a segunda vez no ano que a negociação de seus papéis é suspensa pelo mesmo motivo. A primeira foi em fevereiro.
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