
Fantástico: Por que o senhor se interessou pela questão da Floresta Amazônica?
Johan Eliasch: Eu sou uma pessoa que adora árvores e que sempre se preocupou com o desmatamento. Foi assim que me interessei.
Fantástico: É certo dizer que o senhor está comprando a Amazônia, um pedacinho de cada vez?
Johan Eliasch: Não, de jeito nenhum. Eu tenho alguma terra no Amazonas através de uma empresa que comprei. Esse é o meu envolvimento e é para a proteção dessas terras.
Fantástico: Quando o senhor comprou essas terras?
Johan Eliasch: Foi em 2005.
Fantástico: Quantos hectares?
Johan Eliasch: No total, cerca de 160 mil hectares.
Fantástico: Esses 160 mil hectares equivalem a uma área maior do que a cidade de São Paulo, que tem 1.523 quilômetros quadrados. O senhor pode nos dizer quanto pagou?
Johan Eliasch: Isso eu não posso dizer porque, no contrato de compra, o preço é uma informação confidencial.
Fantástico: O que pretende fazer com essas terras?
Johan Eliasch: Garantir que não haverá extração ilegal de madeira, que as áreas ficarão livres disso e também para desenvolver o local de maneira sustentável. Eu quero permitir à comunidade local fazer coleta de castanhas de graça. Eu criei meios de subsistência nessas áreas.
Fantástico: O senhor pretende comprar mais terras na Amazônia?
Johan Eliasch: Eu não pretendo comprar mais terras do que eu já tenho.
Fantástico: A Agência Brasileira de Inteligência (Abin) acredita que o senhor esteja incentivando a compra de terras na Amazônia por estrangeiros por causa de uma declaração que ele deu em 2006. O senhor sugeriu que a Amazônia poderia ser comprada por US$ 50 bilhões?
Johan Eliasch: O que falei foi em uma conferência para empresas de seguros, em 2006. E o que eu disse é que o valor hipotético da Amazônia era pequeno comparado ao que as seguradoras gastaram com os prejuízos do furacão Katrina. E que elas deveriam incentivar ações antidesmatamento. Foi isso que disse.
Fantástico: De onde foi tirado esse valor?
Johan Eliasch: Com base em um preço hipotético do valor das terras naquela época. Mas disse apenas como a intenção de incentivar as seguradoras a patrocinar a proteção da floresta.
Fantástico: O governo brasileiro está investigando ONGs internacionais que atuam na Amazônia e a Cool Earth, que o senhor fundou, está entre elas.
Johan Eliasch: Eu nunca fui notificado sobre qualquer investigação. Tenho certeza que a Cool Earth operou e atua de acordo com todas as leis, brasileiras, inglesas ou quaisquer outras leis.
Fantástico: Então, por que o senhor acha que existe esta suspeita?
Johan Eliasch: Eu não sei.
Fantástico: Ao fazer uma doação, o dinheiro vai para um projeto, mas também vai para a compra de terras?
Johan Eliasch: A Cool Earth não é dona de terra alguma. O que ela faz é apoiar projetos junto às comunidades locais para proteger a floresta.
Fantástico: De onde vocês tiraram os números para afirmar que com 35 libras o doador tem garantida a preservação de 22 árvores adultas, seis animais ameaçados de extinção e mais de 11 mil espécies de insetos?
Johan Eliasch: O preço é o que nós estimamos, que por 35 libras dá para efetivamente proteger meio acre de terra. E a fonte dos números são institutos de pesquisa brasileiros e internacionais.
Fantástico: Em sua opinião, a quem pertence a Floresta Amazônica?
Johan Eliasch: Pertence aos brasileiros e é assim que tem que ser.
Fantástico: Algumas pessoas no Brasil o vêem como um invasor, alguém que veio de fora, comprou terras e quer tirar lucro delas. O que acha disso?
Johan Eliasch: Acho que é uma invenção da imprensa brasileira, talvez inspirada por razões políticas. Mas minhas intenções são apenas... Eu gosto do Brasil, acho que é um lugar maravilhoso. Eu também gosto de árvores, floresta. Estou apenas tentando ajudar a proteger a Floresta Amazônica. É isso.
Fantástico: O senhor não acha que a maneira como a Cool Earth atua no Brasil pode ser chamada de um novo tipo de colonialismo?
Johan Eliasch: Não existe colonialismo nisso. Existe apenas um apoio financeiro para pessoas pobres.
Durante a entrevista, o sueco Johan Eliasch afirmou que em uma das suas propriedades, um lugar chamado "Democracia no Amazonas", ele financia um projeto social.
Johan Eliasch: Em "Democracia", estamos fazendo uma biblioteca para a escola, porque a escola não tem livros para os alunos. Só os professores tem livros, então o que estamos fazendo é construindo uma extensão para a escola que seria uma biblioteca e estamos doando livros. Também estamos ajudando financeiramente para permitir o acesso da população à internet.
Fonte: Fantástico/Rede Globo.Permitida reprodução deste citada a fonte.