Dois homens foram mortos por espancamento em Manaus e na comunidade rural de São João, na BR-174, em dois atos de revolta de populares por crimes praticados pelas vítimas. A polícia investiga quem foram os autores dos homicídios.
Duas pessoas foram mortas por populares, por espancamento, após cometerem assalto e roubo. Uma delas, que ainda não foi identificada pela polícia, foi assassinada na manhã de ontem, após assaltar e ferir o taxista Hugo Lima Nery, 36, na avenida Constantino Nery, São Geraldo, Zona Centro-Sul, por volta das 6h. A outra, o autônomo Raimundo Eduardo Viana, 26, foi espancado até a morte por moradores da comunidade de São João, no km 4, da BR-174 (Manaus-Boa Vista), no início da noite de quarta-feira, 1º, acusado de ter praticado um roubo em uma das residências da comunidade.
Segundo testemunhas, por volta das 5h50 de ontem, três homens pegaram o táxi de Hugo Lima Nery, na saída da casa noturna VIP, rua Lobo d’ Almada, Centro. A testemunha informou ainda que o assalto contra Hugo foi praticado por dois homens, "Um dos que pegou o táxi, muito provavelmente, já havia saído do veículo em outro ponto. Ao anunciarem o assalto, apontou uma tesoura contra o taxista, que teria reagido jogando o carro contra um poste". O homem ainda desferiu uma tesourada no rosto do taxista, fugindo em seguida, com o comparsa, ambos em direções opostas. "Um mototaxista que passava no local viu a fuga e conseguiu alcançar um deles", afirmou a testemunha.
Revoltados com a ação dos assaltantes contra o taxista, populares que passavam pelo local começaram a sessão de espancamento, que só terminou quando o assaltante estava morto.
Um taxista da mesma empresa de Hugo disse que por volta das 6h20, quando passava pela avenida Constantinho Nery, no sentido Centro-Bairro, viu o carro de Hugo batido num poste. “Pensei que fosse um acidente e fiz o retorno para socorrê-lo. Mas, fui informado que ele havia sido vítima de um assalto e que um dos assaltantes fora pego pela população e linchado”. Hugo foi levado ao Hospital 28 de Agosto, Zona Centro-Sul.
O outro homem que conseguiu fugir levou a carteira com documentos e dinheiro do taxista. A proprietária do carro que Hugo dirigia, Andréia Souza da Silva, esteve no local, mas não soube informar o valor roubado. Segundo Andréia, Hugo dirigia o táxi havia sete anos. O veículo, modelo Siena, placas JWX -2716, passará por perícia.
O caso foi encaminhado à Delegacia Especializada em Homicídios e Sequestros (DEHS) e será investigado. Por meio de sua assessoria, o Hospital 28 de Agosto informou que Hugo recebeu alta ainda ontem e que teve ferimentos superficiais no lado esquerdo do rosto e nas duas mãos. Após realização de exames foi liberado.
De acordo com dados da Secretaria de Segurança Pública (SSP), de 2008 até janeiro deste ano foram registrados 87 assaltos contra taxistas (76 no ano passado e 11 este ano), a maioria ,29, no período entre a meia-noite e às 8h. Na semana passada, um deles teve o nariz arrancado à faca, quando reagia a um assalto, no Tarumã.
O autônomo Raimundo Eduardo Viana, 26, foi morto depois de ser espancado pelos moradores da Comunidade São João, no km 4 da BR-174 (Manaus- Boa Vista). A resposta violenta da população aconteceu por voltas das 18h na quarta-feira,1º, na rua São Francisco de Assis, naquela comunidade.
Segundo informações preliminares do chefe de investigação da Delegacia Especializada em Homicídios e Sequestros (DEHS), Éber Serrão, Raimundo foi espancado até a morte, após cometer um roubo em uma residência na rua Santa Rita.
O investigador informou que ainda não há informações sobre quantos participaram do ato. “Os relatos das testemunhas e o estado do corpo indicam que houve linchamento”, afirmou Éber.
>>De volta ao estado primitivo
Os dois casos de violência em que as pessoas decidiram fazer justiça com as próprias mãos, linchando dois suspeitos de crimes, na opinião do cientista social e professor da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Luís Antônio de Souza, têm explicação no instinto animal que estava inserido nos seres humanos primitivos que, ao invés do diálogo e da tolerância, procuravam resolver seus conflitos por meio da violência.
Mas com o advento das pessoas passarem a conviver em sociedade, esse panorama mudou, na opinião do sociólogo, e ao invés da violência, as pessoas delegaram ao Estado a condição de resolver seus conflitos: “Mas se o cidadão sente que o Estado não é capaz de mediar e resolver essa gama de problemas e conflitos, ele retorna à forma primitiva de vivência e de convivência, ou seja, usa a força e a violência para resolver seus conflitos”, afirmou.
Aliado ao lado instintivo inerente ao ser humano, existem ainda outras questões sociais e comportamentais que colaboram para a mudança repentina desse comportamento como o estress, o mau humor do dia a dia, e a falta de perspectiva: “Então, quando o cidadão está chutando, agredindo e linchando alguém, ele não está só fazendo isso com a pessoa que é vítima, mas contra tudo isso, ou seja, o estress, o mau humor, a falta de trabalho e de comida na mesa, do desentendimento em família, e todas essas coisas”, afirmou o sociólogo.
Para o sociólogo a solução é a busca, do indivíduo pelo diálogo, e do poder público em suprir as necessidades dos cidadãos.
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